Tecnologia com riscos à Saúde.
A evolução da tecnologia nos leva ao conforto térmico no interior de veículos. Enquanto do lado de fora temos 35º C, lá dentro temos 20 a 22º C.
Para esse conforto, não podemos esquecer que riscos importantes poderão trazer conseqüências que variam de leves a graves.
Nessas condições, somos submetidos a riscos físicos e biológicos. O risco físico, devido à variação térmica abrupta, tanto quando entramos, como quando saímos do veículo. O risco biológico existirá sempre pela presença de fungos, vírus, ácaros, bactérias e bacilos insuflados no meio pelo equipamento de refrigeração.
A utilização do ar quente e do ar frio repercute de maneira similar.
Risco Físico
Mas o quê causaria esta variação térmica e quando aconteceria?
Poderemos citar três situações:
1. Quando se sai do veículo
Percebe-se:
- A sensação de calor lá fora é muito maior. Elevação súbita da temperatura. Pele quente;
- Não há tempo suficiente para adaptação;
- Ressecamento súbito dos condutos nasais;
- Ocorre uma vasodilatação periférica;
- Redução súbita do fluxo sanguíneo cerebral;
- Perda líquida rápida através da pele tentando equilibrar a temperatura corporal;
- Redução da freqüência cardíaca e respiratória.
E quais são os sinais e sintomas decorrentes dessa saída súbita do automóvel, com ar condicionado ligado, para a rua, onde a temperatura está elevada?
- Calor intenso;
- Queda da pressão arterial;
- Tonturas,
- Desmaios;
- Desequilíbrio hidro-eletrolítico;
- Os hipotensos (pressão baixa) tornam-se mais hipotensos;
- Sonolência;
- Torpor;
- Fraqueza.
2. Para quem fica no veículo
-No momento da abertura da porta, o ar quente domina o ambiente. Ocorre súbito aumento da temperatura podendo produzir sinais e sintomas idênticos aos descritos anteriormente, porém minimizados.
3. Para quem entra no veículo
- Ocorre uma queda brusca da temperatura;
- Sensação de variação térmica é maior;
- Cartuchos nasais não têm tempo hábil para adaptar-se, não conseguindo aquecer o ar, hipertrofiam-se;
- Pode ocorrer sensação de nariz úmido e coriza.
- Dependendo da sensibilidade individual, os sintomas serão maior ou menor.
- Ar frio chegando à faringe, cordas vocais, traquéia e brônquios, resfria o tecido de revestimento interno produzindo maior umidade no trajeto;
- Vaso constrição periférica;
- Aumenta o fluxo sanguíneo cerebral;
- Hipertensos se tornam mais hipertensos;
- Aumenta freqüência cardíaca e respiratória..
E o que se sente nestas condições?
- Irritação no nariz com espirros e sensação de umidade
- Coriza;
- Frio intenso;
- Tosse;
- Rouquidão;
- Sensação de obstrução ou entupimento nasal;
- Sensação de obstrução do conduto auditivo por comprometimento da trompa que ventila o ouvido médio;
- Dor muscular;
- Dor nevrálgica;
- Paralisias comprometendo nervos periféricos;
- Cefaléia.
Risco Biológico
Ocorre a presença de microorganismos insuflados no ambiente pelo equipamento. A umidade do ambiente permite também proliferação de microorganismos levados para o interior do carro através roupas, sapatos, etc., que alojados nos assentos e carpetes do veículo proliferam.
Com o desligamento do sistema de ar condicionado, a temperatura sobe, atingindo condições ideais para crescimento de micro-organismos. O ácaro, elemento altamente sensibilizante da via respiratória, capaz de produzir quadros alérgicos respiratórios como a rinite, traqueíte e bronquite.
Mas além de tudo isso, esquecemos que o insuflador de ar frio e quente necessita de manutenção permanente, não só na troca do filtro, mas em todo o seu conteúdo. A umidade que persiste no seu interior, somada ao calor ambiente quando desligado, permite proliferação de bactérias, fungos, bacilos e vírus. No dia seguinte ao ligar novamente o aparelho serão lançados no espaço confinado do veículo.
As pessoas presentes, ao respirarem, permitirão a entrada de tais organismos na via respiratória, podendo evoluir para infecções importantes. Contaminam ainda pele, mucosas, olhos. Dependendo da virulência (poder de destruição do micróbio) e também do estado imunológico do indivíduo poderá evoluir com um quadro infeccioso que aparecerá no decorrer dos dias.
Risco Ambiental
Os gases utilizados nos aparelhos de ar condicionado como o 134 A, HFC, Freon, R12, destroem a camada de ozônio (R12) e criam o efeito estufa (HFC e Freon). Contribuem para as mudanças climáticas de nosso planeta e nossa autodestruição.
A indústria de refrigeração evolui para a utilização de produtos menos agressivos ao meio ambiente.
Às vezes, torna-se difícil caracterizarmos para um indivíduo, o nexo causal entre o seu quadro clínico e a utilização do ar condicionado do seu veículo.
É o caso, por exemplo, da hemiparalisia facial de Bell, que apareceu subitamente com o possível resfriamento da musculatura e inervação quando estava aproveitando o conforto do seu veículo. Ou quando relacionamos o quadro de bronquite desencadeado à noite após ter passado o período da tarde no ar condicionado do veículo.
Não temos dúvida dessa relação, porém muitas vezes o paciente vai buscar outros agentes causais para definir o seu mal.
Não podemos esquecer que o desenvolvimento tecnológico, o conforto, a sensação de bem estar aparente, muitas vezes traz repercussões desastrosas e conseqüências indesejáveis.
Para quem se utiliza do ar condicionado nesse ambiente confinado, não podemos deixar de recomendar permanente higienização do interior do veículo e manutenção de todo o sistema de ar condicionado.
Para quem já tem história de problemas de alergia respiratória, evitar carpetes ou revestimentos internos que armazenem poeiras, ácaros ou outros microorganismos.
O ar condicionado deve ser evitado quando se salta continuamente do veículo. Ele é ideal para trajetos longos.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET