13/07/2011

CINQUENTINHAS CIRCULAM SEM CONTROLE EM ARAPIRACA/AL.


A ilegalidade e o desrespeito às regras básicas de segurança no trânsito continuam à frente na quebra de braço entre as motos de 50 cilindradas (mais conhecidas como cinquentinhas ou motonetas) e a população arapiraquense. Sem a obrigatoriedade de placa de identificação, capacete, habilitação e, principalmente, regras para pilotá-las, este tipo de veículo continua circulando sem qualquer tipo de controle ou fiscalização, fazendo novas vítimas, a cada dia, na segunda maior cidade de Alagoas.

A chegada das motonetas beneficiou, principalmente, as pessoas de baixa renda, uma vez que o preço de mercado desses veículos ciclomotores varia entre R$ 2 e R$ 4 mil. Outro atrativo é a economia na hora da manutenção. As motocicletas de 50 cilindradas têm autonomia de rodar até 40 quilômetros com um único litro de combustível. Em Arapiraca, muitos trabalhadores já estão aposentando as tradicionais bicicletas, passando a ir e voltar do trabalho de forma motorizada.

A febre das cinquentinhas também trouxe com ela uma série de problemas para o já caótico trânsito de Arapiraca. Como praticamente não existem regras, quem anda neste tipo de veículo, pouco – ou quase nada - se preocupa com as leis de trânsito. É comum presenciar motonetas transitando pela contramão, sobre calçadas e também disputando espaço nas ruas com veículos mais velozes. Muitas vezes os condutores são menores de idade que, em alguns casos, levam mais de uma pessoa na garupa. É a desordem institucionalizada.

Em muitos estados brasileiros, a polícia e os agentes de trânsito já estão apreendendo as cinquentinhas, cujos condutores cometem infrações graves no trânsito. O problema é que apesar das apreensões, não existe uma forma de multá-las, uma vez que não possuem qualquer tipo de registro individual junto aos órgãos de trânsito.

Por outro lado, os proprietários destas pequenas motocicletas alegam que não seria justo que uma pessoa que compra uma cinquentinha gaste quase R$ 500 por ano para registrar e emplacá-la, sem falar no custo para se habilitar, estimado em R$ 600. No meio do fogo cruzado das opiniões, o poder público sabe que precisa chegar a um meio termo, precisando agir rapidamente ou a sociedade pagará um preço ainda maior do que já está pagando com as mortes no trânsito.

Acidentes com motos bateram recorde no 1º semestre

A imprudência dos condutores das cinquentinhas contribui ainda mais para o aumento do número de acidentes motociclísticos na cidade e região. De acordo com dados fornecidos pela Unidade de Emergência Doutor Daniel Houly (UE do Agreste), o número de acidentes envolvendo motocicletas bateu recorde no primeiro semestre deste ano.

De 1º de janeiro à 30 de junho foram registradas 4.192 entradas de pacientes vítimas de acidentes motociclísticos naquela unidade hospitalar. Deste total, cerca de 67% foram causados, exclusivamente, por quedas de motos, com 2833 casos. Atropelamento por moto, colisões entre carro e moto, carro e bicicleta e entre motos completam as estatísticas. No ano de 2009 deram entrada na UE 6.395 pessoas vítimas de acidentes motociclísticos. Em 2010 esse número subiu para 8.124 casos.

De acordo com o ortopedista João Gustavo, grande parte dos acidentados que chega à Unidade de Emergência conduziam ou eram passageiros das motos de 50 cilindradas. Segundo ele, a maioria sofre fratura de tíbia, antebraço e punho. “Como essas motos andam em menor velocidade, os danos aos ocupantes resumem-se a escoriações e fraturas, geralmente nos braços e pernas. Mas, dependendo da queda, a vítima pode até sofrer traumatismo craniano encefálico (TCE) pela não obrigatoriedade do uso do capacete. Acidentes com este tipo de moto podem não matar, mas deixam seqüelas para o resto da vida”, frisou.

João Gustavo alertou ainda que as autoridades deveriam tomar providências urgentes quanto a regulamentação deste tipo de veículo, uma vez que além de causar danos à saúde das pessoas ainda gera prejuízos aos cofres públicos. “O cidadão que sofre acidentes motociclísticos fica afastado do trabalho e compromete a renda familiar. Por outro lado, acaba gerando ônus para o Estado, que é obrigado a custear um benefício financeiro até sua recuperação”, alertou o ortopedista.

Oficinas “envenenam” cinquentinhas por até R$ 100

Um mototaxista arapiraquense, que preferiu não se identificar, disse que em Arapiraca existem mais de dez oficinas especializadas em “envenenar” os motores de motocicletas de baixa potência, geralmente as de 50 cilindradas. Segundo ele, os mecânicos dessas oficinas abrem o motor, levam parte dele para a retífica, onde é feito um trabalho de alargamento dos pistões, que ficam mais livres e, conseqüentemente, tornam esses veículos mais velozes.

Segundo o mototaxista, as cinquentinhas que, em situações normais, chegam a atingir, no máximo, 40 ou 50 Km/h, com o motor alterado pode ultrapassar os 100 Km/h. “Muitas pessoas estão alterando a potência dos motores das cinquentinhas e para isso não gastam mais do que R$ 100”, denunciou.

SMTT diz que motonetas poderão ser registradas e licenciadas

O superintendente da Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) de Arapiraca, Severino Lúcio, disse estar bastante preocupado com a febre das cinquentinhas na cidade. Segundo ele, Arapiraca possui, atualmente 36 mil motos emplacadas e registradas, o que representa 63% da frota total de veículos, contabilizada em 57 mil. Mas, Severino Lúcio alerta ainda que como as cinquentinhas não possuem qualquer tipo de registro junto aos órgãos de trânsito, o total de motocicletas em Arapiraca pode ultrapassar os 40 mil.

“A gente tem controle apenas sobre os veículos registrados e emplacados em Arapiraca. Essas motonetas são como bicicletas, onde nós que fazemos parte dos órgãos de trânsito não temos como contabilizar ou controlar a circulação das mesmas. Hoje elas representam uma grande preocupação e um dos maiores desafios a serem enfrentados pela SMTT”, disse o superintendente.

Severino Lúcio garantiu que os proprietários desse tipo de veículo poderão ter uma surpresa em breve. A exemplo do que já acontece em outros estados brasileiros, o Departamento de Trânsito de Alagoas (Detran), juntamente com SMTT’s de várias cidades, já estudam um projeto que prevê o licenciamento e registro das cinquentinhas, assim como a exigência de habilitação para sua condução. “Nós, enquanto SMTT, não podemos criar leis ou punições para serem obedecidas apenas em Arapiraca. Isso geraria regras diferentes em cada município, o que causaria grande polêmica. É por isso que estamos solicitando para que o Detran estude um projeto disciplinador que seja aplicado de forma igualitária em todo o Estado”, frisou Severino.

Atualmente, a Polícia Militar já está guinchando as cinquentinhas que estacionam em local proibido, principalmente na área central. Segundo o superintendente da SMTT, todos os dias chegam de cinco a dez motonetas ao pátio do órgão. “Essas motos estão infernizando não só Arapiraca, mas o Brasil inteiro. Muitos condutores, por saberem que praticamente não existem regras, acabam extrapolando na forma de pilotá-las, comprometendo assim a qualidade do trânsito e colocando em risco a vida das pessoas, inclusive a deles”, alertou o superintendente.

No próximo dia 22 de julho, data em que será comemorado o Dia do Motorista, a SMTT estará nas ruas de Arapiraca fazendo uma campanha educativa. Segundo Severino Lúcio, um dos temas abordados na campanha será alertar sobre os cuidados e formas corretas de pilotar esses ciclomotores.

Proprietários reagem contrários à ideia

Ao tomarem conhecimento da intenção da SMTT em cadastrar e, posteriormente, licenciar as cinquentinhas, proprietários deste tipo de veículos reagiram de forma contrária à idéia. Um deles foi Marcos Antônio Moraes, que assumiu que anda sem capacete e disse que não aceitará pagar taxas. “Eu ando sem capacete, porque sei que a 50 quilômetros por hora dificilmente sofrerei uma queda forte. Já comprei essa moto pra fugir das taxas que pagava com a minha 125 cilindradas. Não vou aceitar, em hipótese alguma, ser obrigado a emplacar minha cinquentinha. O governo quer apenas criar mais uma taxa para explorar os cidadãos”, protestou.

A estudante Gabriela Soares Farias é outra que se mostrou contrária ao licenciamento, mas reconheceu que muitos condutores de cinquentinhas exageram na falta de respeito às regras de trânsito. “Eu uso capacete e respeito cada placa ou sinal de trânsito. Sei que apesar de não existirem regras oficiais eu também piloto um veículo que pode tirar a vida de pessoas”, disse Gabriela.

Campanha não deu certo em Pernambuco

A guerra a favor da regulamentação das cinquentinhas tem sido difícil em vários Estados brasileiros. O Detran de Pernambuco, por exemplo, já teve negado dois dos três recursos que impetrou no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) para tentar liberar, mais uma vez, o emplacamento dos ciclomotores e, consequentemente, sua fiscalização.

O órgão, que ensaiou uma ação de fiscalização no fim do ano passado quando foi liberado pela Justiça para cobrar o emplacamento dos veículos, podendo passar a abordá-los em blitzes, diz estar de mãos atadas. Como o TJPE argumentou que os ciclomotores são responsabilidade dos municípios, o órgao diz que nada pode fazer.

Para não ficar parado que nem estátua, vendo a desordem reinar nas ruas, o Detran-PE planeja ir até onde o problema reina – a periferia, realizando blitzes educativas nos bairros mais populares do Grande Recife para tentar, através da educação e da conversa, sensibilizar os proprietários das cinquentinhas a usar, pelo menos, o capacete.
Fonte:Primeira Edição

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