13/04/2012

TRÂNSITO PODE PARAR CIDADES EM 2020, DIZEM EMPRESAS DE TRANSPORTE

Mesa (E/D): proprietário do blog Ambiente e Trânsito, Carlos Penna Brescianini; representante do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ernesto Pereira Galindo; presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS); presidente da ONG - Rodas da Paz do Distrito Federal, Uirá Felipe Lourenço; secretário geral da Federação Nacional dos Metroviários, Luciano Soares Costa

Especialistas em transporte discutiram trânsito no Senado nesta segunda. Eles pediram investimentos em transporte público para melhorar trânsito.

Entidades fizeram apelo ao governo nesta segunda-feira (9) para maiores investimentos em transporte público no Brasil. Especialistas em trânsito discutiram, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, a situação do transporte público e privado no país.

O presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (ANTU), Otávio Vieira da Cunha Filho, afirmou que as cidades brasileiras podem parar em 2020 por conta do trânsito. Ele afirmou que, em 1977, 70% dos brasileiros usavam o transporte público. Em 2009, segundo ele, metade da população se deslocava por transporte individual.

"Acredito que hoje seja mais de 60% e não sabemos a quanto isso chegará em 2020. Creio que até lá as cidades estarão efetivamente paradas, se alguma coisa não for feita para melhorar essa questão."

O representante da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Nazareno Afonso, falou sobre o "modelo falido"do transporte rodoviário de carros. “Não tem solução para o automóvel”, afirmou o especialista dizendo que o problema do automóvel deve ser discutido em primeiro lugar em debates sobre política de mobilidade. O especialista falou também sobre a necessidade de investimentos em frotas de ônibus e no aumento de demanda sobre trilhos, o transporte metroferroviário.

Ernesto Pereira Galindo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também reiterou a importância de investimentos no transporte público. “Mesmo melhorando a tecnologia do transporte individual, ele não consegue atingir certos pontos das cidades. O foco da ação tem que ser na restrição do uso do transporte motorizado individual e na melhoria do transporte público”, afirmou.

“À medida que as cidades vão saturando o trânsito, as velocidades dos meios de transporte são menores e há uma tendência de diminuir o número de acidentes graves”, afirmou o especialista que acredita que o transporte individual tem relação forte com acidentes de trânsito.

Acidentes
De acordo com o Departamento de Trânsito (Detran), os acidentes de trabalho relativos ao trajeto aumentaram em 57% de 2004 para 2010, disse o representante do Ipea, Ernesto Pereira Galindo.
JORNALISTA CARLOS PENNA BRESCIANINI

Para melhorar e baratear o transporte público no Distrito Federal, o jornalista Carlos Penna Brescianini defende a integração entre metrô, ônibus e vans, para que os habitantes da região possam “montar a sua própria linha, combinando trechos” de cada um desses meios.

Penna é um dos responsáveis pelo blog Meio Ambiente e Transporte e apresentou a proposta sobre a situação do transporte coletivo no país e as condições de mobilidade nas cidades brasileiras.

– No final do dia, um sistema eletrônico online dividiria as receitas entre as partes – acrescentou Carlos Penna.

Ele ressaltou, contudo, que é exatamente por essa razão que as empresas de ônibus do Distrito Federal “fogem” da integração: elas teriam a obrigação de abrir sua contabilidade e enfrentar a concorrência de outros meios.

O jornalista disse que, apesar das críticas sofridas pelas vans, esse meio é necessário para trechos curtos, ainda que não possam concorrer com os transportes de massa destinados a longas distâncias.

– As vans não devem ser usadas em trechos de 20, 30, 40 ou 50 quilômetros – exemplificou.

Após apontar o problema ambiental, Penna defendeu o uso de veículos como o metrô, o ônibus eletrônico e o veículo leve sobre trilhos (VLT), “pois representam alternativas não poluentes”

Vítimas
Tanto Carlos Penna quanto o presidente da ONG Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, atribuíram o elevado índice de acidentes de trânsito ao grande número de veículos de uso individual no país. Lourenço observou que pedestres e ciclistas deveriam ter os mesmos direitos que os motoristas no que se refere aos espaços da cidade.

– Os motoristas têm vias contínuas, que levam de um ponto ao outro, mas o pedestre nem sempre tem uma calçada que leva de um ponto ao outro. O ciclista não tem ciclovia ou ciclofaixa que o leve de um ponto ao outro – declarou.

Uirá Lourenço reiterou o argumento utilizado pelo ex-presidente da Rodas da Paz, Ronaldo Alves, há um ano, em audiência no Senado. Na ocasião, Ronaldo alertou que, “quando se gasta efetivamente em transporte público, pode-se tirar uma grande quantidade de veículos das vias, mas, quanto mais se fomenta o veículo individual, mais se fomentam os acidentes de trânsito”.

Para Carlos Penna, os acidentes que envolvem os automóveis individuais representam o “custo social” desse tipo de transporte.

– O índice de pessoas mortas por dia nas guerras do Vietnã e da Bósnia era menor do que o índice de mortos por dia no trânsito do Brasil – afirmou o jornalista, acrescentando que o vitimado é sempre o mais fraco: o pedestre, o ciclista e o motociclista.

Penna informou que há, no Distrito Federal, cerca de 1,28 milhão de automóveis – a população da região é de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes.

Uirá Lourenço defendeu o uso de bicicletas como alternativa “prática e rápida ao caos automotivo”. Ele se referiu aos grandes congestionamentos de carros que acontecem no Distrito Federal.

Segundo Carlos Penna, a bicicleta se tornou uma alternativa “efetiva” para as pessoas de baixa renda que não têm condição de pagar “os altos preços do transporte público”. O jornalista ressaltou que, para muitos pedestres, o preço da passagem de ônibus é determinante em sua escolha.

O presidente da organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, disse que “nós vivemos um massacre urbano” devido ao alto número de acidentes de trânsito. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o número total de mortes no trânsito em 2011 foi de 8.660.

Bicicleta
O presidente da ONG Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, defendeu ainda atitudes que possam melhorar a infraestrutura de apoio ao ciclista. “[É preciso] investir de forma moderna, investir nas pessoas e não nos carros”.

Segundo ele, as cidades estão "sufocadas pelo transporte individual motorizado e pelo sucateamento do transporte público". A melhor cidade para se viver, de acordo com o presidente da Rodas da Paz, é a que valorize a bicicleta. “São inúmeros benefícios à saúde, é um meio de transporte econômico, prático”.

Metrô
O secretário-geral da Federação Nacional dos Metroviários, Luciano Soares Costa, falou sobre a situação do trabalhador metroferroviário. O secretário defendeu a não criminalização dos profissionais e mencionou a greve dos trabalhadores metroviários do DF que começou em dezembro do ano passado e durou 37 dias.

O secretário-geral fez apelo para a regularização da profissão do metroferroviário. “O trabalhador perde muito em benefícios. A desvalorização da profissão metroferroviária é um problema sério para a perda na qualidade na prestação de serviço”.

Motocicleta
Luiz Carlos, presidente do Sindicato dos Mototaxistas (Sindimototaxi), reiterou a importância de políticas para que mototaxistas sejam reconhecidos como trabalhadores e não como "cachorros-loucos" no trânsito.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que "nós temos que mudar a mentalidade" sobre os meios de transporte. “Temos que pensar que progresso não é um número maior de carros, progresso é um tempo menor perdido em deslocamento no trânsito”.

“É sobretudo uma questão de educação. Nós precisamos educar o Brasil para um novo conceito de progresso e desenvolvimento”, concluiu o senador.
Fonte:VNews.com

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