17/12/2010

EM ANGOLA CENTENAS DE JOVENS GARANTEM EMPREGO COMO MOTOTAXISTAS

Devido à falta de emprego no mercado formal, João Manuel Agostinho, de 27 anos, optou pela lavagem de viaturas na via pública rua. Conta que começou a lavar os carros dos vizinhos, no Cazenga, a troco de 500 kwanzas por carro. Com o tempo, sentiu que o negócio estava a render pouco e arranjou um carro de mão para transportar mercadorias no mercado do Quilómetro 30, em Viana.
João Manuel Agostinho queria, a todo o custo, mudar de vida, por isso poupava dinheiro para comprar uma motorizada, pois ambicionava fazer serviço de mototáxi. Há três anos as suas poupanças permitiram-lhe comprar uma motorizada e começou a actividade de mototáxi, transportando pessoas de porta em porta no perímetro compreendido entre a zona das salinas e o interior do bairro do Cacuaco, Panguila, Vidrul e Cimangola.
Aprendeu a conduzir a motorizada por intermédio de um amigo. Com o tempo sentiu necessidade de aprender o Código de Estrada, inscrevendo-se na Escola de Condução de Motorizadas da Amotrang. Aprendeu as regras do Código de Estrada e, actualmente, tem carta de condução que o habilita a conduzir e está muito satisfeito.
Afirma que desde que passou pela escola de condução de motorizadas da Amotrang nunca mais teve acidentes e usa o capacete de protecção.
“Antes tinha muitos acidentes, mas desde que aprendi as regras evito desastres na via pública”.

Escola de condução

Garcia Pedro, de 21 anos, conhece todos os sinais de trânsito afixados no quadro da Escola de Condução Amotrang.
Garcia Pedro inscreveu-se na escola de condução para concretizar um desejo antigo, que é ser motorista. Afirma que a escola tem bons professores e condições para aprender as regras de trânsito. “Quanto tirar a carta de condução, posso conduzir motorizadas e carros”.
Garcia Pedro afirma que os jovens com carta de condução conduzem motorizadas sem problemas, levando e trazendo passageiros com toda a normalidade.
Frederico Huambo, 46 anos, dirige o núcleo da Associação dos Motoqueiros e Carregadores de Angola (AMOTRANG), na comuna do Quicolo, composto por mais de 400 motoqueiros. Desmobilizado das Forças Armadas Angolanas, recua no tempo e afirma que consegue sustentar a família, pagar propinas dos filhos, fazendo táxi com motorizada.
Desempregado, com mulher e filhos, para dar de à família, começou por trabalhar em mercados com um carro de mão. Hoje, além de fazer serviço de táxi, também lidera um grupo de filiados na Amotrang. Dirige encontros de esclarecimentos aos filiados, aconselha-os a entrarem para a escola de condução para obtenção de conhecimentos sobre legislação rodoviária e a legalização da motorizada.
Tem igualmente como tarefa mobilizar os mototaxistas no sentido de usarem o capacete de protecção e optarem por uma condução responsável, onde a prudência tem sido a grande batalha.
Afirma que boa parte dos motoqueiros, principalmente os filiados, acatam os conselhos que, em companhia do seu grupo de trabalho, faz questão de fornecer. Mas reconhece que um número reduzido de mototaxistas ainda teima em desrespeitar o Código de Estrada.

Garantia de trabalho

Há muitos jovens a exercer a actividade de mototáxi para sustentarem a família ou pagar a escola, serviços de saúde e a renda de casa. É a realidade vivida por Joaquim Hebo Calambo, de 37 anos. Disse à reportagem do Jornal de Angola que se levanta às cinco da manhã e só depois das 18 horas é que encosta a motorizada em casa do proprietário, a quem entrega os valores arrecadados. Cada viagem custa 100 kwanzas, dependendo da distância. Há rotas que, devido à distância, o preço aumenta mediante pré acordo com o passageiro.
Pai de cinco filhos, afirma que diariamente deve apresentar ao patrão o valor de 2.500 kwanzas, valor que nem sempre consegue fazer devido à concorrência de outras motorizadas.
A motorizada de Joaquim Calambo, uma Yamaha, apresenta sinais cansaço e está a pedir reforma. Mas Joaquim Ebo Calambo faz tudo para manter a mota em condições de transportar pessoas. “Gostava de ter uma motorizada nova, mas como dizem os mais sábios, quem não tem cão caça com gato”.
Há cinco anos a trabalhar como mototaxista, tem a motorizada documentada, mas o facto de ainda não possuir carta de condução deixa-o inquieto. Apesar de não frequentar uma escola de condução, afirma que tem um do Código de Estrada. “Estou a tratar da documentação para, em Janeiro, entrar para uma escola de condução de motorizadas da Amotrang”, sublinhou o jovem.
Felisberto Carruagem tem 18 anos e é estudante. O dinheiro que ganha na actividade de mototáxi investe na sua formação académica. Afirma que antes de enveredar pela profissão fazia parte de um grupo de marginais. Com o tempo percebeu que não era justo o que fazia e a convite de um primo começou a realizar actividade de taxista e jura que jamais voltou a roubar. “A motorizada é o meu emprego, mas penso fazer um curso de serralharia e montar o meu próprio negócio”, afirma.

Surgimento da associação

Quem deseja ser um grande médico é António Inácio, de 28 anos. Pai de uma filha, frequenta a 12ª classe e está determinado a concretizar o seu sonho. Trabalha para pagar propinas e com o tempo pretende mudar de actividade.
“Gostava de trabalhar numa empresa que me garantisse um salário mensalmente e dispor de mais tempo para estudar. “Por vezes, como tenho de completar a conta do patrão, sou obrigado a largar tarde e isso prejudica-me”.
A Amotrang é a Associação de Motoqueiros Transportadores de Angola e tem mais de oito anos de existência. Surgiu por altura da desmobilização de muitos soldados da FAA que, como forma de sobrevivência, começaram a transportar cargas em carros de mão. Posteriormente, com o dinheiro que receberam das Forças Armadas Angolanas, muitos adquiririam motorizadas para realizarem actividade de mototáxi.
Segundo João Amaral dos Santos, delegado provincial da Amotrang em Luanda, o aparecimento da associação foi promovido pelo antigo administrador municipal do Cacuaco, Agostinho Miguel Lima, que queria ver os motoqueiros organizados.
A Amotrang tem duas escolas de condução, no Cacuaco e Mulenvos, onde os motoqueiros aprendem as normas do Código de Estrada.
João Amaral dos Santos revela que os seus filiados, depois de frequentarem a escola de condução, são submetidos a exame para obterem a carta de condução.
“Queremos que as administrações municipais nos concedam um espaço onde pretendemos criar uma escola de alfabetização, uma escola de condução e um centro de formação profissional, para ministrar cursos de mecânica, bate-chapa e pintura aos motoqueiros”, sublinhou João Amaral dos Santos.
Actualmente, a associação está empenhada na abertura de uma escola de condução no Kilamba Kiaxi e na Samba, onde pretende formar moto taxistas.

Número de filiados

A Amotrang tem inscritos mais de 17 mil membros, 3.770 dos quais na comuna da Funda, 920 na zona do Panguila e 2.880 no Cacuaco. João Amaral dos Santos afirma que, na comuna do Quicolo, a associação tem 3.720 motoqueiros, Viana 5.800 e Cazenga 780.
Actualmente estão inscritos mais de mil membros para frequentarem a escola de condução, mas deste número boa parte tem faltado às aulas para ir trabalhar, situação que deixa descontente João Amaral dos Santos.
“É necessário que a sensibilização continue, porque o objectivo é prevenir acidentes e legalizar as motorizadas. O ciclo formativo começa às sete horas da manhã e estende-se até às 18 horas, cabendo ao candidato a escolha do horário”, disse João Amaral dos Santos. Revelou ainda que muitos motoqueiros ainda não estão inscritos na associação. Compram as motas e estão a conduzir.

Aulas de Alfabetização

O trabalho desenvolvido pela associação está igualmente virada para a vertente da alfabetização, porque um número considerável de cidadãos que conduzem motorizadas não sabe ler nem escrever. “Alguns motoqueiros já experientes dão aulas de alfabetização a outros colegas. O núcleo do Quicolo alfabetiza mais de 100 jovens ao passo que o de Mulenvos ensina a ler e a escrever 180 cidadãos, entre mulheres e homens”.
As aulas são ministradas numa escola comparticipada, de tarde, altura em que já não há mais aula na escola de condução.
A Amotrang conseguiu um crédito, através do Banco Sol, que vai permitir a aquisição de 97 mil motorizadas na República Popular da China. Do acordo firmado com o banco, disse João Amaral dos Santos, consta igualmente a vinda a Angola de técnicos de mecânica, pintura e bate chapa para formarem quadros angolanos.
A importação das motos vai ser feita de forma faseada, chegam 100 motorizadas de cada vez que vão ser distribuídas aos sócios da Amotrang, que, além de possuírem conta bancária no Banco Sol, devem ter 70 por cento do valor da motorizada depositado no banco. O resto do valor é amortizado.

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