Luciana Carnevale/especial para a Gazeta
Piracicaba deve contar, ainda neste ano, com uma política específica e pioneira na prevenção a acidentes que envolvem profissionais que trabalham sobre duas rodas, na função de mototaxistas e no setor de moto-entregas. A realidade é preocupante tanto em relação a eles quanto no que diz respeito aos passageiros que são transportados nas garupas. Além da informalidade quase que total - de acordo com o vereador João Manoel dos Santos (PTB), autor da lei que criou os sistemas de mototáxi em 1998, no máximo duas agências que concentram mototaxistas estariam regulares, diante de um panorama de aproximadamente 500 motociclistas que atuam no setor -, dados confirmados pelo Centro de Referência e Saúde do Trabalhador (Cerest) revelam que de 2003 até os dias de hoje (25), 375 acidentes, sendo 24 deles graves, foram registrados na cidade, todos tendo os chamados motoboys como vítimas.
A Gazeta apurou que cada mototaxista piracicabano transporta, por dia, cerca de 12 pessoas. Numa conta rápida, é possível constatar a marca de seis mil pessoas que vão e vêm de casa ao trabalho, do trabalho para a casa, para a escola ou a outro ponto da cidade. Sem regulamentação ou segurança, todos estariam vulneráveis a possíveis novos acidentes, o que não é nada animador.
Para tentar colocar um ponto final nessa situação, representantes da Comissão Municipal de Prevenção aos Acidentes de Trabalho e Doenças Relacionadas ao Trabalho (Comsepre), sob a coordenação de Milton Costa, se reúnem hoje (25), a partir das 15 horas, com o prefeito Barjas Negri (PSDB), no gabinete do chefe do Executivo, localizado no prédio do Centro Cívico. O objetivo é definir um programa voltado ao segmento.
Vereadores, membros do Conselho das Entidades Sindicais de Piracicaba (Conespi), do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), do Ministério do Trabalho e do Centro de Formação de Condutores (CFC), entre outras entidades e instituições, confirmaram presença à reunião, que promete ser decisiva.
O titular do Comsepre explica que além de todos os perigos que os mototaxistas passam, sem contar os riscos dos garupas e da falta de um amparo legal mais consolidado, a rede pública de saúde do município tem arcado com o atendimento de incidentes que poderiam ser evitados.
Uma das metas, segundo Milton Costa, é realizar uma pesquisa com os trabalhadores, identificando-os. "Infelizmente, a maioria atua na informalidade", lamenta. A decisão de recorrer ao prefeito foi tomada durante encontro mensal do Conselho, realizado em abril deste ano, na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Regional Piracicaba.
ESTUDO. Milton Costa observa que um dos motivos que desencadearam o amadurecimento de uma ação mais ampla, que deve ser implantada em Piracicaba, foi a divulgação de uma tese de mestrado apresentada pelo professor Eugênio Hatem Diniz, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Segundo ele, 'os acidentes ocorrem em função dos riscos que os motociclistas enfrentam na atividade'. "Dirigir uma moto é muito diferente que conduzir um carro", diz Costa.
Além de todos os perigos que os mototaxistas passam, sem contar os riscos dos garupas e da falta de um amparo legal mais consolidado, a rede pública de saúde do município tem arcado com o atendimento de incidentes que poderiam nem existir. "A exploração no setor é muito grande e os direitos básicos do trabalhador não são respeitados. Do dia pra noite, uma agência de mototáxi pode ser aberta sem que haja fiscalização. É preciso haver critérios", frisa.
O vereador João Manoel dos Santos, que estará no Centro Cívico, lamenta que a insegurança permeie um setor de prestação de serviços idealizado para servir a população com esmero e qualidade.
"Não queremos que o serviço deixe de existir, mas que ocorra com precisão. De fato, não há fiscalização adequada. E a culpa não é da atual administração, mas de outras, que desde que a lei foi aprovada, nada fizeram para melhorar", diz.
NÚMERO
15 horas tem início o encontro que reunirá prefeito e entidades
De SP para Piracicaba
Nascido em Piracicaba, William Camargo, 32, passou os últimos 20 anos em São Paulo (SP), onde milhares de motoboys transitam à toda velocidade pelas marginais e demais vias da megalópole. Pai de três filhas, todas as segundas-feiras se despede delas e da esposa - a família mora no bairro paulistano de Santo Amaro - e viaja, de moto, rumo a Piracicaba.
Até sexta-feira, quando retorna à capital, trabalha como mototaxista, transportando dezenas de pessoas a destinos diversos. Há três meses na função, Camargo conhece bem os dois lados da moeda.
Enquanto em São Paulo os acidentes com vítimas fatais ocorrem em números crescentes, o mesmo não acontece, pelo menos não na mesma proporção, no município. Por outro lado, Piracicaba concentra, de acordo com o mototaxista, mazelas igualmente sérias.
Há assaltos aos profissionais, que acabam sem as motos, e o desrespeito flagrante dos motoristas de carros. "Em São Paulo, sei que ganharia o dobro, mas não compensa. O estresse é total. Em Piracicaba, por outro lado, existem esses problemas que precisariam ser resolvidos. Falta um corredor exclusivo aos motociclistas", lembra. William Camargo trabalha com moto própria e dois capacetes. Tem habilitação para dirigir o veículo, mas não é regra na cidade. A grande maioria sequer está habilitada para a função.
A Gazeta apurou que um dos maiores entraves para que o serviço de mototáxi deslanche em Piracicaba é o pagamento, pelos motociclistas, de diárias aos donos das agências espalhadas pela cidade.
Em outros pontos do País, onde existe o mesmo sistema de transporte, tudo é diferente.
Os mototaxistas que atuam na cidade desembolsam, por dia, uma parte da féria que conquistam nas corridas.
Se ganham R$ 20,00, por exemplo, pagam R$ 10,00 aos proprietários. Em São Paulo e em outras cidades pesquisadas pela Gazeta, o ganha-pão dos mototaxistas é integral em relação às corridas que eles fazem. É outro detalhe que precisaria mudar a partir da política específica que começará a ser especificada hoje.
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É precisão que a prefeitura tenha ciência com uma apuração imediata pois eu sou afavor há ideia.janderson sou mototaxy e dependo do serviço.
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