Dr. Dirceu Rodrigues Alves Jr.
Estamos estudando esse tema de longa data atrás de soluções viáveis de curto, médio e longo prazo. Buscamos iniciativas, alternativas que fizessem a melhor composição entre a máquina, o homem e o meio ambiente.
Como vamos sobreviver com tantas agressões?
O trânsito e transporte não estão matando só com os acidentes que a todo momento vemos estampados nos jornais. As agressões ambientais causadas pelos gases, vapores, poeiras e fuligens além de levarem milhares de brasileiros aos prontos socorros desenvolvendo doenças agudas e crônicas, matam cerca de 8.000 indivíduos na cidade de São Paulo.
O ruído, a vibração, variações térmicas, condição ergonômica, exposição a microorganismos tudo nos leva a entender que precisamos reduzir a sobrecarga de quem dirige veículos, quem é transportado e a sociedade como um todo.
Vejo a necessidade de mudanças comportamentais, educação, cidadania, conscientização, responsabilidade e tudo que possa envolver e fazer uma sociedade mais sadia, integrada, humanizada capaz de oferecer a cada um de nós o seu melhor. Dessa forma, antevejo a necessidade de ações profundas a curto, médio e longo prazo.
Em curto prazo:
Fiscalização.
Não podemos aceitar que uma grande cidade como São Paulo, por exemplo, não tenha um serviço de fiscalização de trânsito. Faz-se necessário e de imediato a atuação maciça de policiais militares envolvidos exclusivamente com o trânsito e com ações ostensivas.
Multas e Pontos na Carteira.
Essa é uma necessidade básica que necessita perdurar. Chegar ao objetivo final que seria controlar pontos somados na carteira e recolher Carteira Nacional de Habilitação quando ultrapassado os limites. Reeducar motorista infrator e reincidente e ter vigilância sobre o mesmo.
A multa não é a maneira de aumentar arrecadação (indústria da multa) como a maioria tenta popularizar, mas a única e imediata maneira de se punir, educar e fazer respeitar a sinalização e a lei. Se for registrada uma multa significa que houve uma transgreção, cabendo a punição exemplar.
Punições.
Mais severas. Rigor nas condutas negligenciadas pelos condutores.
Detenção, Prisão.
Para os que não respeitam, transgridem e reincidem.
Em médio prazo:
Educação continuada.
Ação sobre empresariado e destinatário. Observando tempo de exposição aos riscos inerentes ao trabalho executado. Jornadas longas, qualidade de vida no trabalho precária. Sacrifícios enfrentados. Mudança radical na estrutura do trabalho desenvolvido e zelo pela melhor qualidade de vida.
Em longo prazo:
Pré – escola:
A criança desde os cinco anos de idade precisa conhecer o que é mobilidade, sinais de trânsito, sinalização horizontal e vertical, como deve ser o comportamento do pedestre. Conhecer riscos e perigos da máquina sobre rodas. Ter a educação de trânsito será a maneira de conscientizá-la e torná-la responsável.
Curso secundário:
O adolescente prossegue com conhecimentos de maior profundidade atingindo as leis, resoluções, conhecendo as leis da física que atuam sobre o veículo em movimento. Dentro da biologia estudar a repercussão do ruído, da vibração, poeiras, gases, vapores, fuligem sobre o organismo humano e o meio ambiente. Uso de álcool, drogas e medicamentos que repercutem na direção veicular. A velocidade como fator de risco.
Chegarão dessa forma ao final da adolescência amadurecidos, educados, conhecendo os riscos, perigos, conscientizados e responsáveis.
Resumindo, dos cinco aos dezoito anos, isto é, em treze anos teríamos uma nova geração, uma nova cultura. Humanizados para a vida, para o trânsito e para o transporte. Maior integração, respeito e cidadania. Estariam prontos para enfrentar o Curso de Formação de Condutores.
Curso de Formação de Condutores (CFC):
Necessita de grande reformulação.
Não podemos entender que sejam passados aos candidatos conhecimentos mínimos com relação à direção veicular. Andar a 30 km/h, subir um aclive parar, não deixar o veículo recuar e fazer uma baliza (estacionamento), não pode e não deve ser o suficiente para se conceder a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Precisamos fazer o candidato praticar mais, frear a 80 km/h para impedir uma colisão, circular com piso molhado freando, andar de dia, de noite, na neblina, na chuva e em todas as condições adversas que surgirão. Aplicar a direção defensiva e evasiva nas situações de risco. Conhecer os tipos de pisos, características das ruas, avenidas, rodovias. Ultrapassagens, utilização das luminárias, como se comportar diante do farol alto, como se comportar diante de um eventual acidente. Ter o mínimo de conhecimento da mecânica do veículo, acessórios de segurança e outros.
Todas as situações precisam ser passadas ao aluno através inicialmente de equipamentos eletrônicos onde todas as condições citadas serão treinadas através de simuladores. Após este longo treinamento passará a executá-lo de maneira real numa pista própria, acompanhado e orientado pelo instrutor.
Educação Continuada:
O aprendizado não para por aí. É necessária atualização permanente. Tudo evolui na vida. No trânsito e no transporte acontece a cada momento evolução tecnológica, sinais de trânsito novos, acessórios, equipamentos, legislação, tudo se modifica, o processo evolutivo não para.
Avaliação Médica:
Nos Estados Unidos da América 2% da população é capaz de executar mais de duas coisas ao mesmo tempo.
Hoje, no nosso país qualquer pessoa consegue a CNH.
Será que todos estão realmente habilitados?
Dirigir é coisa complexa e que depende de funções muitas vezes não pesquisadas.
O poder de conquista, de vaidade, de exibicionismo que um veículo pode proporcionar a seu proprietário, principalmente jovem, é capaz de levá-lo ao acidente.
Entender os distúrbios comportamentais, psicológicos, psiquiátricos, as doenças primárias existentes cabe ao profissional de saúde. Vejo necessária a ampliação da equipe médica acrescendo-se do psiquiatra e fonoaudiólogo.
Protocolos com ações preventivas longas e profundas permitirão conceder ao indivíduo realmente destinado a ser um condutor tranquilo, educado, passivo, capaz de se integrar ao meio de maneira cidadã, usando da sociabilidade, do respeito e da gentileza no trânsito.
A integração de profissionais da área de saúde que acompanham pacientes com incapacidades devem fazer notificação compulsória ao médico de tráfego e aos DETRANS para recolhimento da CNH.
Fiscalização:
Torna-se eficaz a vigilância permanente e ostensiva.
Multas:
Torna-se fator corretivo e estimula o cumprimento das normas.
Punição:
Para aqueles que estiverem em desacordo com a legislação.
Montadora ou Concessionária:
Não posso entender que ao trocar o meu veículo passo a conduzi-lo sem o conhecimento necessário sobre o mesmo.
Quando vou à concessionária para trocar de veículo, o vendedor passa a ser meu instrutor, mostrando de maneira sumária para que servem os botões ou acessórios existentes no painel. O resto é teórico, aprendido através o manual do carro.
E quem lê o manual?
E o aprendizado prático?
Hoje, com tanta tecnologia vejo motoristas ignorando determinadas funções do veículo porque entendo que poucos são os que lêem todo o manual.
Um treinamento, conhecimento da mecânica, do funcionamento e desempenho do veículo em simuladores de direção veicular e posteriormente em uma pista própria não tenho dúvida que daria um novo perfil ao proprietário. Em continuação se daria uma educação continuada com objetivo de se corrigir possíveis vícios adquiridos.
Motoristas Profissionais:
Estes precisam conhecer os riscos a que estão submetidos e as doenças ocupacionais que podem adquirir. Conhecerem mais as leis de trânsito, serem atualizados com relação à atividade que exercem. Sedimentar conhecimento na teoria e na prática de transporte de passageiros, cargas vivas, cargas mortas, leis da física sobre o veículo, pesagem, manutenção e outros.
Ação sobre empresários:
Conscientizá-los dos riscos, perigos do trabalho desenvolvido. O trabalhador não está passeando, nem tão pouco fazendo turismo, mas submetido a uma atividade insalubre, perigosa que chega a penosidade.
Conclusão:
Ações multidisciplinares precisam ser adotadas, atuando a curto, médio e longo prazo, desde a pré escola, passando pela adolescência e chegando a fase adulta com conceitos bastante diferenciados, amadurecidos, trazendo no seu bojo uma mudança comportamental que certamente tornará o trânsito e o transporte humanizados. Declinarão nossas absurdas taxas de morbimortalidade e estaremos caminhando a passos largos para o acidente o mais próximo de zero.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da
ABRAMET
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego www.abramet.org.br dirceu.rodrigues5@terra.com.br dirceurodrigues@abramet.org.br
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