08/09/2010

SARAMANDAIA/BA SOB AS LEIS DO TRÁFICO


Morador do bairro de Saramandaia em Salvador mostra como deve andar no local
Felipe Campos | Redação CORREIO
Para quem mora em Saramandaia é assim. Ou você opta pela lei oficial, que orienta a utilização de um acessório para a sua própria segurança, ou acata uma outra, cruel e implacável, imposta por traficantes que não aceitam que motociclistas escondam seus rostos atrás de capacetes enquanto transitam sobre sua “área dedomínio”.

Entre uma orientação pela sua segurança e a garantia da própria vida, o condutor sempre optará pela lei do mais forte. Nesse caso, vence a lei do poder paralelo. Morador de Saramandaia há mais de 20 anos, um motociclista, que preferiu não se identificar, anda sem capacete pelas ruas do bairro com medo de ser confundido com algum bandido rival dos que dominama região.

Porém,em 15 de agosto, as leis se cruzaram. Ao sair do bairro para levar a namorada em casa, o motociclista foi surpreendido por uma viatura da Polícia Rodoviária Estadual( PRE). O capacete estava preso no braço direito e seria colocado na saída do Jardim Brasília, onde se sente mais seguro.

Ele ainda tentou colocar o capacete, mas foi avistado pelo tenente-coronel José Gracindo França Peixinho, que o multou por andar sem capacete, penalidade considerada gravíssima, com perda de sete pontos na carteira de habilitação, que ficou retida.
Revoltado, refém de duas leis, o morador desabafa: “Um cidadão como eu fica a mercê de duas leis.Ocara não sabe o que fazer, velho! Euprefiro ficar sem capacete a tomar um tiro e morrer...melhor pagar a multa”. Segundo ele, há cerca de seis anos, o uso de capacetes foi abolido do bairro,desde o assassinato de um morador que foi confundido com um rival. Em agosto de 2009, o delegado José Magalhães, titular da 19ª Delegacia, em Itaparica, proibiu o uso de capacetes na tentativa de coibir a prática de assaltos por motocilistas.

PROTESTO
A imposição de uma lei paralela e a necessidade de escolher um mal menor, o fez escrever uma carta em protesto que será apresentada ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran-BA) como argumento para escapar da condenação. Como justificativa, escreveu: “Sei que o uso do capacete é obrigatório. Mas também sei que se eu usar onde moro, pode também ser o meu mal. Então qual vai ser a lei que vaimeamparar agora? Alei do código de trânsito ou a lei dos traficantes? ”.

Mototaxistas da região ouvidos pelo CORREIO contaram que infringir a lei oficial e a dispensa do capacete são comuns e é pedido pelos próprios passageiros que sabem da determinação. “Aqui dentro, o pessoal todo anda sem capacete, por que tem aquela questão, né? Até pela própria segurança. Não queremos que pensem que nós somos de fora, porque é complicado”, explicou o motocilista Marcos Lauro da Paz, um dos filiados a um pequeno ponto de mototáxi na rua Régis Barreto.

Quando transporta passageiros em outros bairros violentos, como Nordeste de Amaralina, é com um que ouça a mesma orientação. “Quando levo o pessoal nesses lugares assim, eu mesmo pergunto se tem algum problema. Eles geralmente falam pra tirar o capacete pra não serem confundidos com traficantes”. Procurado pelo CORREIO, a PRE informou que a Polícia Militar tem um convênio com o Detran que delega autoridade como agente fiscalizador de trânsito nas situações de competência do estado em qualquer área, seja rodoviária ou urbana. O tenente-coronel Peixinho não foi encontrado pela reportagem.
Fonte:Correio/o que a Bahia quer saber

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